Variantes do HIV com graus diferentes de contágio
podem ajudar no combate à aids
Vírus mutantes da aids são menos perigosos que
os originais, revela estudo americano. A descoberta abre novas perspectivas de
luta contra a aids, na forma de vacinas que forcem à mutação. Mulheres seguem
mais expostas.
De acordo com a pesquisa, apenas
uma variante – a "mais apta", segundo o conceito de Charles Darwin –
é capaz de infectar outros seres humanos. As demais até atacam algumas células
nas mucosas, mas não se espalham pelo corpo e, sendo assim, não provocam a
infecção de HIV propriamente dita.
Os resultados do estudo explicam
por que apenas em cerca de 1% dos casos ocorre infecção através de um parceiro
sexual soropositivo. O uso de seringas compartilhadas, por outro lado, lança o
vírus direto na corrente sanguínea, o qual, dessa forma, tem menos barreiras a
ultrapassar.
Ainda assim, cabe repetir um
velho, porém importante aviso: sexo desprotegido é sempre uma má ideia.
Quando
mais recente, mais contagioso
"O vírus HIV sofre mutações
como um louco", revelou, em entrevista à Deutsche Welle, Jonathan Carlson,
pesquisador da Microsoft Research em Redmond, Washington, e um dos autores do
estudo. Por isso, um paciente soropositivo traz, dentro de si, numerosas
variantes do vírus. Através da mutação constante de seu material genético e, portanto,
de sua forma externa, o vírus consegue repetidamente escapar do sistema
imunológico humano.
As variantes que sofreram
mutações, porém, são menos adequadas à transmissão. O estudo indica que as mais
aptas, no sentido darwiniano, são as que geneticamente menos se afastam do HIV
original, estando mais próximas da média – ou seja, se assemelham a um número
maior de vírus. Essa sequência genética "melhor" para a transmissão é
também a que ocorre com maior frequência. "A média não é média à
toa", resume Carlson.
Contudo, isso também significa
que "alguém que acabou de se infectar, tem um risco de dez a 20 vezes
maior de contaminar seu parceiro sexual do que pacientes crônicos, que já
carregam o vírus consigo há tempos", explica o chefe da pesquisa, Eric Hunter.
Se alguém está infectado pelo HIV há muitos anos, um grande número de vírus
mutantes circula por seu organismo, pois o vírus já vem tentando escapar do
sistema imunológico há muito tempo.
Em contrapartida, alguém que
tenha recentemente contraído o vírus HIV, ainda tem em seu sangue as variantes
mais contagiosas do vírus. Isso é problemático, já que, logo no início de uma
infecção, os portadores dificilmente sabem que são soropositivos.
Mas tudo isso, obviamente, não
passa de estatísticas, ressalva o pesquisador, são valores médios baseados em
probabilidades. Para casos específicos, é impossível traçar previsões. Um único
ato de sexo desprotegido pode ter sido demais – independentemente de quem é o
parceiro.
Mulheres
se infectam com mais facilidade
Ao longo de dez anos, os
pesquisadores observaram na Zâmbia casais em que apenas um dos parceiros era
soropositivo. Apesar de toda a conscientização sobre como evitar o contágio,
137 pessoas se infectaram ao longo do estudo. Nesses casos, os pesquisadores
compararam a variante transmitida com o vírus original.
Com isso, ficou confirmado outro
fato conhecido: mulheres estão mais propensas a contraírem o vírus em relações
sexuais desprotegidas do que homens. "Nós interpretamos os resultados da
seguinte maneira: é mais difícil para o vírus ultrapassar a mucosa masculina do
que a feminina", observa Hunter. Porém se o homem possui inflamações na
área genital, que enfraquecem a barreira da mucosa, ele também contrai o vírus
com mais facilidade.
Além disso, as mulheres se
contaminam com os vírus mutantes com mais frequência do que os homens, pois
também os agentes mais fracos conseguem entrar em sua corrente sanguínea. Por
outro lado, isso implica que, quando um homens é contagiado, será por uma
variante muito mais perigosa, que desencadeará uma moléstia mais grave.
Ponto
de partida para as vacinas?
Os cientistas esperam que os
resultados da pesquisa ajudem no combate ao HIV e à aids. "Uma
constatação-chave do nosso estudo é que pacientes infectados com vírus mutantes
– portanto, mais fracos – oferecem menor risco de transmitir o vírus para
outros", conclui Carlson.
Se for descoberta uma vacina ou
medicamento que enfraqueça os vírus, diminuindo a probabilidade de serem
transmitidos através de relações sexuais, seria possível conter a proliferação
do HIV. Vacinas poderiam, por exemplo, estimular o sistema imunológico de tal
forma a obrigar o vírus a passar por uma mutações intensas.
Esse método não significaria a
cura para o soropositivo, mas talvez poderia impedir que ele contamine outras
pessoas.
Fonte: http://www.dw.de/variantes-do-hiv-com-graus-diferentes-de-contágio-podem-ajudar-no-combate-à-aids/a-17785185
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